“A maratona do Medoc não é uma maratona. É uma festa que sem perceber a gente corre 42k.”
A vibe da largada da maratona “mais longa do mundo” é algo difícil de descrever.
Essa é a 39a edição, “La Mer” é o tema da vez.
Ao descer do onibus já ficamos endoidecidas com todas as fantasias; polvos, sereias, caranguejos, bob esponjas, nadadores salvador. Um oceano.
A vibração das pessoas é de festa, sente se a excitação no ar.

Nos posicionamos bem na frente e assim, além de garantir uma boa largada, tivemos acesso ao melhor show. Sobre o pórtico uma apresentação aérea de marinheiros e sereias. Música, dança, animação.

Nos abraçamos e largamos. A Inês saiu andando e foi aproveitar o ambiente e vinícolas, seguindo ordens médicas.
Nós três seguimos, controlando o ritmo no relógio. A estratégia era 8 min de pace, porque assim teríamos tempo para todos os abastecimentos. Não abusaríamos da sorte e, equilibraríamos a velocidade das três.
Largar bem posicionadas fez diferença. Curioso foi que ali na frente era de imaginar que logo o bolo iria dissolver, mas não, ninguém largou acelerando. Nosso pace estava dentro do previsto para muitos. Ficou ainda mais nítido o propósito da corrida; diversão. Se você veio para competir, está no lugar errado.

Traçamos também a estratégia de beber; Inicialmente era atacar após o quilometro trinta. Mas espera aí “Estamos na Maratona do Medoc! Vamos é beber!” (E rezar para cair depois do pórtico de chegada!). Começamos já no primeiro abastecimento.
Controla o ritmo, o tempo de parada e segue para próxima: “Festinha! Festinha!”

Passamos por uma fonte de um vilarejo e uns corredores fantasiados de sereias (hahaha) estavam dentro jogando água em quem passava. Eu não conseguia parar de rir, levando com água na cabeça e vendo aqueles homens de batom e caudas instalando o caos.
As fantasias e o comprometimento são nível superior. Nós sempre corremos entretidas com o “desfile”, provando visualmente toda criatividade alheia. E fazendo parte da parada, escutamos muitas vezes: “Les petits poissons nagent nagent nagent.” (O que viemos depois descobrir que é uma musiquinha famosa de criança! Hahaha)

Com interação. Até ataques de submarinos amarelos e tubarões sofremos.
Percebemos que estávamos perto de muitos atletas que correm rápido e usam o tempo extra para brincar. Beber nos tantos pontos de abastecimento com bandas e curtir a festa pelo percurso.
Outro grupo animado seguia controlando o ritmo médio como nós e fazendo cálculos de quanto tempo podiam parar nas “festinhas”.
Não tínhamos nem cinco quilómetros de competição já estávamos na segunda prova de vinho. Nessa, as taças eram de vidro. Muitos dos vinhos da competição são caríssimos.
Era um grande Chateau lá estavam as “sereias” novamente deitados no espelho d’água do Castelo. Imagina a cena!

“Santééé!” brindamos e seguimos correndo. Sem esquecer da água!
Entre as festas com bandas dos Chateaux existem também os vilarejos e casas onde a animação também é pensada localmente; caixas de som, torcida e mais festa. São raros os momentos onde você percebe que faz esforço. O cérebro está sempre entretido com acontecimentos.

Seguimos sempre acompanhado o ritmo do relógio e controlando nossas paradas. Paramos em muitas pistas de dança!
Já nos primeiros quilómetros da competição percebemos que nossos relógios estavam marcando mais quilometragem. A gente fechava 10k e demorava ainda uns 500 metros para aparecer a plaquinha dos dez k.
Em todo Santo Chateau a gente provava o vinho. Às vezes um gole, às vezes três. “Santééé!”

O calor apertando. Paramos algumas vezes para fazer pipi escondidas no meio das intermináveis vinhas.
“Pelo menos estamos hidratadas.”
Calor mais vinho pode ser perigoso.
No quilometro 27, num bar de vilarejo estavam dando cerveja. Eu não hesitei. “Lurdes, você não vai pegar cerveja???”
Ela voltou e brindou, a Pati seguiu.
Geladinha. Desceu redondo!
Nem preciso falar que depois do delicioso copo de cerveja gelada e todos os tintos antecedentes, eu corria bêbada. Tentando acompanhar a Pati e a Lu.
“Batata fritaaaaa. Batata frita de verdade!”
Quando chegamos em mais uma festinha de Chateau e eu vi as batatas fritas não sosseguei enquanto não as garfei.
Coca-cola para ver se melhorava e depois de dançar uma música seguimos. Pelo caminho ainda fui roubando fritas de atletas alheios.
A localização comida da prova é planejada com exatidão. Os pontos tem comidas tradicionais de prova; laranjas, bananas, biscoitos etc e estrategicamente posicionados os bónus; Batata Frita, Churrasco, Ostras, Sorvete, que apareciam no momento exato.

No quilometro 32 onde supostamente a gente ia começar a beber, já estava na hora de parar.
Ao longo da prova é perceptível o volume de barulho dos corredores aumentando. Ali na parada também já tinham dois dançando com cadeiras na cabeça! Hahaha
Vi apenas uma pessoa passando mal e outro morto no acostamento, mas o calor extremo não ajudava nada.
Eu já seguia a corrida super desgastada com a alta temperatura. (Tá bom, o vinho também contribuiu)

Aqui eu já acompanhava a Pati e a Lu com dificuldade.
A Lurdes me surpreendeu demasiado; eu sempre estive preocupada com o pouco treino que ela tinha (17k foi “seu longão” e vem tentando tratar uma lesão no posterior de coxa há séculos).
Foi numa conversa por whatssap, quando tive a certeza que ela terminaria a prova:
“Se tenho que ter tanta força para trabalhar, correr dentro de portas, aguentar os 40°c dentro daquelas paredes. Como não ter força para fazer algo que me faz feliz ?”
Vendo ela ali com aquele sorriso de orelha a orelha trotando feliz e determinada, foi gratificante.
“Lu, parabéns você me enche de orgulho! Terminar uma maratona com o pouco de treino que teve é algo inimaginável.”
Tivemos pouquíssimo tempo para sofrer; um retão, o calor…Mas aqueles dois quilómetros finais nem se a gente andasse devagar pegaríamos o corte.
No final as placas de marcação já estavam dando nos nervos.
“Quando completar 42 eu vou parar!”
A Pati parou e a gente comemorou! Yeah!
A Lurdes “Anda meninas!” queria continuar correndo.

Misericórdia! Ainda bem que apareceu a Inês e no último ponto de abastecimento; os prometidos picolés! Hummmm!
Seguimos as quatro juntas. “Quando fizermos a curva a gente corre.”Assim fomos até o pórtico!

A maratona do Medoc foi feita para gente (Flower People). Não pelo vinho, mas pelo conceito de diversão e brincadeira.
Ninguém (ou quase) está ali pelo tempo, o que vale são as fantasias, as brincadeiras, a festa, a dança, beber com amigos. Que importa a linha de chegada? Eventualmente a festa vai acabar e vai. O que vale mesmo é o tanto que a gente é feliz se diverte pelo caminho.
Obrigada meninas por alinharem no desafio, foi maravilhoso comemorar com vocês! Muito amor envolvido.
Inês, logo mais a gente está correndo juntas de novo.
Pati, foi duro acompanhar o ritmo de vocês! Quanta diversão! Festinha! Festinha!
Lu, respeito! Você é uma atleta incrível! Que orgulho. Parabéns pela sua primeira maratona.
“Les petits poissons nagent nagent nagent!”

Obrigada amor, pelos ajustes de treino dentro de uma rotina maluca e apoio incondicional num ano tão cheio de viagens. Amo te.
“Les petits poissons nagent nagent nagent!”


3 Responses
É com muita emoção que volto a sentir a prova em cada palavra que faz a descrição quase perfeita de toda a aventura♡
Digo “quase perfeita” porque nada do que possamos dizer descreve com exactidão a espetacularidade de tido o que sentimos♡ Que organização!! pudesse eu voltar e faria tudo de novo, a vossa companhia fez toda a diferença 🥰🥰🥰 obrigada pelo apoio, amor, e caminho que fazemos juntas♡
Te amo muito, muito, muito ♡
Lindo relato! Me fez lembrar de toda diversão, mesmo não podendo correr.
Eita kizilicia!!!! Parabéns Lourdes vc se superou filhota ! Parabéns Lu e Pati vcs são demais ! Parabéns Inês pelo espírito esportivo e suporte às peixinhos .
Festa e festa é vcs são uma FESTA !!!!