O Tiger’s Nest é cartão postal do Butão, o mosteiro dramaticamente empoleirado em um penhasco a 3.120 metros de altitude, no Vale de Paro.
Alguns garantem que é um dos destinos mais impressionantes do Himalaia.
Como a cereja no topo do bolo, ele ficou guardado para nosso último dia no país.
Após mais de dez dias variando em altas altitudes minha mãe sabendo da falta de ar, decide que não irá escalar até lá em cima, irá até o café, uma parada no meio do caminho com vista para o mosteiro e sua montanha.
Saímos cedo do hotel porque queríamos despistar os turistas. Chegamos no estacionamento por volta das 7:30 da manhã.
Minha mãe achou sua égua que levaria até o café e Vishnu ficou encarregado dela.
Eu segui caminhando com SP.
Dia internacional da mulher, minha cabeça e minhas energias estão voltadas para essa data que, com o passar dos anos, passou a fazer sentido para mim. Ainda mais hoje; estou aqui com minha mãe, e viemos por causa da Zette, minha avó. É terminar a viagem celebrando as mulheres!
A trilha que sai do estacionamento sobe 4 quilómetros. Saímos de 2.600 m por uma trilha de terra, as vezes cheia de pedras e raízes.
Mal entramos na montanha e começamos a subir, começou a cair neve! (What?) Não neva há três anos, e agora no começo da primavera vem neve?! Sonam começou a brincar que éramos nós mulheres que estávamos trazendo essa força energética.
Começamos a passar os guias e turistas que entraram na trilha antes de nós. Nosso objetivo era chegar lá em cima antes de todo mundo. Passamos uma família, uma mãe e uma filha:
“Happy women’s day!” Elas sorriram.
Dei três voltas na roda de reza que tinha no meio do caminho. Mandando energias para um randomizado das mulheres que conheço.
A subida tem quatro quilómetros saindo do estacionamento; são quase 600 m de ascensão. Há 3000 de altitude.
É impressionante a primeira vista que se tem do Tiger’s nest, e na nossa caiam flocos de neves em dança, era como se a neve estivesse vindo do templo. Mágico!
Aqui encontramos os cachorros e diferentemente de todo país, eles eram bem amigáveis e carinhosos.
Depois do belvedere vem uma escadaria descendo e depois subindo novamente, e nessa fenda do meio uma enorme cachoeira. Que coisa mais linda.
Ao pé do Tiger’s nest a neve parou de cair. Que timing mais nosso, não?!
Chegamos na portaria atrás de um casal indiano. Não é permitido entrar com celular, como em muitos lugares que visitamos aqui, deixamos as mochilas no locker e entramos.
O templo é feito de um conjunto de “capelas” de tamanhos diferentes, a primeira que visitamos é a que originou a lenda e o nome do lugar, segundo a lenda Padmasambhava voou até essa montanha montado nas costas da tigresa alada, e aqui meditou por tres meses para difundir o budismo no Butão.
Abençoo as duas malas ali, na frente da pedra da meditação.
Ao sairmos deixamos o casal pra trás, estávamos sozinhos novamente. Fomos os primeiros a abrir a porta das próximas 3 capelas; o que teve uma emoção especial.
O segundo também dedicado a Padmasambhava. No meio desse salão um enorme buraco no chão onde é possível visualizar uma enorme fenda em triângulo na rocha, que a lenda reza que aqui Padmasambhava, em sua manifestação Dorje Drolo, uma de suas formas mais poderosas e iradas, fincou seu punhal para domar um mau espírito e essa marca ficou na rocha. Nesse “buraco” triangular enorme e profundo os visitantes jogam dinheiro em forma de alinhar com essa energia de proteção contra as forças do mal. SP conta que uma vez por ano recolhem tudo e convertem em benfeitorias para o templo.
Mas convenhamos; quantos maus espíritos assombravam o passado não?
Enquanto ouço as histórias abençoo, mais uma vez, as malas nos pés das estátuas, muitas delas as variadas formas que o guru se manifestava.
Saímos desse templo e seguimos para o próximo.
“Bem vinda ao templo da longevidade.”
(PAUSA. Suspense.)
Longevidade!!! Prendi até a respiração.
Quando SP abriu a porta e eu vi aquelas enormes estátuas douradas com o Deus da longevidade no meio, fui invadida por uma indescritível emoção.
Comecei pondo as malas nas primeiras, quando cheguei na longevidade, pus novamente as malas aos seus pés e olhando pra cima me conectei. Fechei os olhos e comecei a rezar (da minha maneira, como costumo conversar diariamente com o universo) depois enquanto eu seguia ali absorvendo e gerando energia, SP conduziu meu pensamento para todas as mulheres do mundo. Pensei também na minha mãe, pai, avó e segui num randomizado novamente de pessoas que pipocavam aleatoriamente na minha mente, das mais próximas às mais distantes.
Quando ele disse para pedir um desejo, só me veio uma vontade enorme de agradecer.
Fiquei ainda alguns minutos ali em frente de olhos fechados com pensamentos randomizados mandando energia, e senti uma energia intensa e explosiva percorrer meu corpo. A emoção mais uma vez toma conta de todas as células, como no dia que ouvimos a reza, e transforma se em lágrimas. Saí dali atordoada.
A última capela era o Deus da Vitória, malas abençoadas, e mais energia enviada para mulheres.
Quando saímos e começamos a descer alguns turistas estavam começando a chegar, mais a maioria encontramos na trilha, muitos ainda bem afastados do tempo.
“Já foram? A que horas saíram? É bonito? Vale a pena?”
Rimos com a surpresa de quase todas as pessoas que cruzávamos. Nós fizemos uma rápida acensão e visita.
Minhas mãos estavam completamente congeladas, ainda bem que na manhã por intuição eu não segui o conselho de SP e levei um casaco um pouco mais quente. Estava um gelo.
No meio da descida achamos um local para eu colocar meu tsa-tsa que é uma pequena estatueta budista feita de argila sagrada moldada em formato de uma mini estupa.
São colocados na montanha como uma oferenda espiritual, garantindo proteção e benção Achamos um lugar bem protegido e com vista para o Tiger’s Nest e instalamos meu tsa tsa na montanha.
Isso porque ontem o SP foi consultar se era uma boa data para colocar na montanha. Sim! Ainda tem dessa, é preciso descobrir se a data é propícia, senão nem tente! Era, yes!
Perguntamos se o dia que nós demos as 108 voltas era um dia bom para peregrinar. SP ficou receoso em consultar considerando que já tínhamos abençoado as malas e dado as voltas.
“Sim foi um bom dia.” Respira aliviado.
Mais pra baixo na descida instalamos as bandeiras de reza, também escolhemos um local estratégico com vista abençoada.
Logo veio uma menina me estendeu a mão e me felicitou “Feliz dia das mulheres.”
“Para nós.”
Assim terminei da trilha valorizando a força de tantas mulheres e histórias que me tocam. De todas as que cruzei pelo caminho. E algumas eram mesmo exemplos poderosos do dia:
Da minha avó que abriu um lindo caminho e nos fez estar aqui hoje. Obrigada Zette!
Fazendo uma retrospectiva dos dias, SP:
“Vocês são sortudas em poder vivenciar juntas essa viagem de mãe-filha.”
A trilha termina num abraço na minha mãe.
“Somos mesmo sortudas!”
Obrigada manhê, que viagem mais inesquecível!
One Response
Vou contar uma coisa: estou a ler neste momento numa sala de espera de um consultório repleto de pessoas. a maioria deve pensar que sou louca por estar a sorrir e de lágrima no olho a olhar para o tlm. Obrigada, Obrigada, Obrigada por partilhares tanta energia, por seres alegria por onde passas♡