As idas pro Bonete nos atiçaram a querer ir mais longe.
“Bora conquistar Castelhanos numa paulada só.”
A trilha do Bonete é uma das trilhas mais famosas de Ilhabela. A isolada praia está, aproximadamente, 11 k da portaria do parque. A trilha é exigente; tem barro, pedras, é irregular e tem bons sobes e desces.Do Bonete para Castelhanos, a figura já muda; somam se mais treze quilômetros, há mais altimetria e mata fechada.
A equipe estava formada Tom, Rui, Nuno e eu. Dois brasileiros e dois portugueses.
Para chegar no Bonete não tivemos grandes dificuldades; não é preciso navegar e o esforço estava já dentro das expectativas.Paradas quase que obrigatórias nas duas cachoeiras do caminho; a da Lage, para escorregar no tobogã natural de pedra e “encher o cantil” e a do Aerado para nadar e driblar o calor úmido tropical. As cachoeiras parecem que foram estrategicamente posicionadas, quando precisamos da parada, elas estão ali, dividindo o percurso de uma maneira prazeirosa.
Na trilha ouve se muito os lagartos que, quando nos escutam, saem estabanados correndo para dentro da mata. Com quase quatro horas de viagem chegamos ao Bonete, pouco atrasados na nossa programação. Hora de almoçar e ser almoçado pelos borrachudos locais, portugueses que se cuidem; eles adoram sangue novo.
“Vocês vão pra Castelhanos hoje ainda? Vocês são doidos!”
Há muitos caiçaras que nunca fizeram a trilha Bonete – Castelhanos. Outros já sabem bem onde a gente está se metendo.
Com a pança ainda cheia aceleramos o passo para o segundo trecho do dia. Para achar a entrada da trilha tivemos que pedir ajuda aos locais.
“Cuidado que já teve uma turma que foi parar no farol da ponta do Boi!”Não consigo entender muito como alguém consegue ir parar na direção contrária, mas a verdade é que dentro da mata Atlântica fechada os pontos de referência desaparecem.
O sol estava castigando e o calor da primeira subida judiando do Nuno, que resolveu ficar pelo Bonete.
“Sigam vocês!”
Não podíamos perder o ritmo porque senão chegaríamos a noite.
Ainda tem duas praias após o Bonete: Anchovas e Indaiaúba, acesso bem fechado e por trilha.Na primeira passamos por Anacleto, um caiçara que o Tom conhecia:
“Sigam aqui, logo vocês irão ver a seta do Xterra” _ referindo se a marcação do percurso da competição, e continuou:
“As urtigas vão bater palmas para essas suas pernas.”De fato não era nada inteligente eu achar que iria cruzar a mata Atlântica de shorts. Coloquei logo a calça e seguimos.
Indaiaúba é a outra praia remota com uma casa particular, numa fazenda tropical isolada no meio da mata. Coisa de cinema, assim como tal, logo que adentramos o espaço já apareceu um quadriciclo fazendo a ronda:
“Vocês estão indo para Castelhanos?” E nos explicou por onde a trilha passava certificando se que nós não ficaríamos muito tempo por ali.
Depois de Indaiaúba cruzamos montanha cortando a ponta do Boi para chegar no outro lado da Ilha. Com o acúmulo de trekking do dia as subidas pesadas ficavam ainda mais duras. Trilha bruta.Do outro lado já, ao entardecer, temos uma visão especular da natureza sem sinal nenhum de civilização. Entre terra, céu e mar nos sentimos pequeninos. Uau!
Praia vermelha e mais um pouco de trilha chegamos em Castelhanos, a segunda viagem do dia deu quase cinco horas. Dormimos lá em uma pousada.
Casa – Bonete – Castelhanos total de 26 k trilho técnico duro e divertido.
Voltamos de Castelhanos no dia seguinte pela mesma trilha, dessa vez, com direito a cobra e tudo. Do Bonete viemos de barco, mas isso são outras longas histórias.
Valeu meninos, aventura espetacular!
2 Responses
Convosco, cada passo é uma aventura!!😍
Fico sem palavras para descrever o meu entusiasmo ao ler os teus relatos!!
Divirtam-se muito♡
Saudades♡
Pra variar sempre uma farra ler esses relatos! Parabéns crianças !!! Love you !