Eu já tinha escrito.
Mas como todos acontecimentos dessa viagem parecem alinhados com o universo, percebi que hoje, dia internacional da mulher, era o que faltava para publicar.
Com vocês, a história de Tshering, a dona inspiradora do meu dia da mulher:
O primeiro hotel que ficamos em Thimphu era pequeno, com 28 quartos e uma hospedagem acolhedora.
Numa das noites que estávamos jantando se aproxima uma mulher estilosa e com uma energia que sentia se transmitida.
“Estão sendo bem servidas? Olá eu sou Tshering, a dona do Hotel. Aqui antigamente era minha casa de família.”
Assim começa a história. Conta que quando tinha 18 anos seu pai faleceu e a mãe decidiu:
“Você ainda é muito nova, tem muita vida pela frente, vou arrumar um marido para você!”
Aqui no Butão na atualidade existem dois tipos de casamento; o por amor e o arranjado. Quando a família é muito rica costuma ser o arranjado.
“Mãe, posso conhecer ele antes de casar?”
Mas como eram de localidades diferentes Tshering não teve escolha.
Casaram e tiveram três filhas.
Quando a terceira já estava pouco mais velha Tshering foi estudar e procurar um emprego, mas como não tinha o superior completo e nenhuma experiência, não conseguiu trabalho.
Decidiu então que abriria seu próprio negócio; uma pequena house guest na casa que herdou do seu pai.
“Eu sei cozinhar e sei receber bem as pessoas!”
Com o apoio do marido, seguiu seu sonho.
Foi ao banco pedir um empréstimo.
“A localização é perfeita!” (e diga se mesmo; é no centro de Thimphu).
O banco decidiu investir mais dinheiro para que ampliasse o projeto.
Quando foi receber o empréstimo pediram lhe sua conta;
“Eu não tenho, uso a do meu marido.”
Aos trinta e cinco anos foi abrir a sua primeira conta bancária. “Lembro disso com detalhes até hoje. Um dia tão feliz na minha vida.”
Quando o hotel ficou pronto, decidiu que empregaria maioritariamente mulheres, sempre sem experiência, às vezes mães solteiras, que precisassem do emprego.
“Quando as contrato, as acompanho até o banco para abrirem uma conta, passar a felicidade que me trouxe, adiante.” Conta emocionada.
Ela ensina lhes tudo.
“Quando percebo que estão prontas incentivos lhes a voar.” Conta que procura vagas de trabalho nos hotéis mais luxuosos e quando acha telefona.
“Olá eu sou Tshering, do hotel Thimphu Tower…”
(“Sim porque antes eu era Tshering a esposa do meu marido, agora eu me encho de orgulho em dizer Thimphu tower!”)
“…e vi a vaga que tem disponível, as minhas meninas não tem todo o currículo que vocês anunciam, mas eu gostaria de sugerir o seguinte; eu mando as para aí, para uma experiência de 3 meses, pago o salário delas durante esse período e depois disso se forem aprovadas, ficam, caso contrário elas voltam.”
Fazendo isso,Tshering conta, que muitas, já no primeiro mês, eram efetivadas no novo hotel. “Já mandei 52 meninas para grandes hotéis.”
Agora imagina minha mãe e eu, ouvindo ela compartilhar essa história com esse entusiasmo que emociona;
“Eu fico até arrepiada de lembrar!” Ela arrepiada, e eu a essa altura, já nem conseguia esconder as tantas lágrimas que derramava.
***
“A minha filha mais velha já está formada em jornalismo. A do meio às vezes vem me ajudar aqui na cozinha; ela é a que tem personalidade mais forte!”
“Quando eu fiz quarenta anos de idade sabe o que ela falou pra mim?; “Mãe, você tá com cara de velha! Você deveria ir…”
“Correr!!!” Eu completei. Porque já tinha reparado que no seu pulso tinha um garmim como o meu.
“…Maratona.” Ela completa.
Aí, aos 40 anos de idade começou a treinar. Diz que saía do hotel vestida de kira, (aqui no Butão é a roupa tradicional das mulheres, uma saia que encosta no chão e uma blusa de manga comprida.) atravessava o centro e quando estava afastava jogava a saia numa moita para poder correr.
Até um dia que sua filhas indaga como ela podia ir treinar assim.
“Mãe, você é uma mulher forte e poderosa, você deveria sair daqui do hotel vestida como corre, representando as mulheres.”
Depois desse dia, resolveu seguir os concelhos da filha, e passou a sair correndo do hotel vestida com leggings.
“Aí recebo uma mensagem da minha mãe, dizendo que o vizinho tinha lhe contado que eu estava sem roupa!”
“Sem roupa!!!” Rimos as três.
***
Termina contando que sua filha, a que às vezes está na cozinha do hotel, chama a mãe quando ela, conversa com os hóspedes. (como nós estávamos conversando.)
“Mother!!! T.M.I!!!”
Sem entender pergunta: “T.M.I?”
“Yes! Too much information for the guest!”
***
Depois de toda informação, que para gente foi longe de ser too much, nos deixa e vai conversar com os outros hóspedes.
Terminamos o jantar aos prantos, relembrando suas palavras tentando absorver ao máximo todos os detalhes de sua história tão inspiradora.
Antes de irmos pro quarto, nos despedimos num grande abraço.
“Have a great race!”
Obrigada Tshering! Por deixar o nosso mundo tão mais bonito! Obrigada por ser inspiração e inspirar tantas mulheres!
Foi um prazer conhece-la!
Till we meet again!
6 Responses
Tshering, obrigada por nunca teres desistido♡ 😭🥰🥰
( fiquei sem palavras)
Lu senti tudo de novo ao ler o texto Thanks memórias inesquecíveis ❤️
Muito obrigado por seres minha amiga 🙏. É um privilégio enorme ter uma amiga como tu. Tu és um grande exemplo. Gosto muito de ti Luciana.
One day we will race together! 💛
Gosto muito de ti também Pedro!
Aaaa que história🥰🥰🥰